18/01/2014

A rotunda e o seu destino...



Zulmiro de Carvalho, O Sol e o Mar, 2006, Leça da Palmeira

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"Entre as sete e as sete e meia, os automobilistas que por hábito passavam pela rotunda já sabiam que, também por hábito, um homem vestido a rigor com calções e camisola de atleta, circulava por ali. Centenas e centenas de vezes em redor da mesma rotunda, como um carro que não soubesse o caminho, que hesitasse entre seguir por uma direcção ou outra; que se deixasse estar por ali, à roda, não arriscando, não tomando uma opção. Enquanto estiver na rotunda não estou perdido, pelo menos não volto atrás. E eis um dos atractivos daquela circulação, circulação quase infinita não fosse ela terminar com exactidão às trezentas voltas: em redor de uma rotunda ninguém volta atrás, ninguém se engana, ninguém tem de assumir o erro e fazer inversão de marcha. A vida, apesar de tudo, é fácil. Numa rotunda."

Gonçalo M. Tavares, Matteo perdeu o emprego, Porto Editora, 2010
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