28/11/2012

Eduardo Galeano: Uma mulher na margem do rio

"Chove morte.
     Os colombianos caem no matadouro por bala ou punhal,
     por golpe de facão ou de porrete,
     pela forca ou pelo fogo
     por uma bomba do céu ou uma mina do solo.
     Na selva de Urabá, em alguma margem dos rios Perancho ou Peranchito, em sua casa de pau-a-pique e teto de sapê, uma mulher chamada Eligia se abana contra o calor e contra os mosquitos, e contra o medo também. E enquanto o leque se agita, ela diz, em voz alta:
     - Como seria gostoso morrer de morte natural."

Eduardo Galeano, Espelhos, Uma história quase universal, Porto Alegre, L&PM Editores, 2009

1 comentário:

  1. É fácil esquecer que morrer de morte natural pode ser um privilégio - e não a banalidade fatal que se pensa.

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