30/06/2012

Tri-Ciclo

Ela já lhe tinha dito que não voltava. Disse-lhe pelo menos três vezes.
 - Não volto, não volto, não volto.
Ele não acreditava. Esperava que o telefone tocasse e que ela dissesse:
 - Vou voltar, hoje mesmo.
Mas ela não ligava. Ligava ele.
 - Voltas?
 - Não, já te disse. Não me ouves?
Ele não ouvia. (Imaginava que ela voltava). Assomava a samarra aos ombros e sentava-se na eira a olhar a serrania. (Imaginava que ela voltava). Puxava o palito aos dentes, atiçava o cão e ia com o gado a jusante da ria. (Imaginava que ela voltava). Dizia-lhe:
- Prometo, Maria, nunca mais.

2 comentários:

  1. 'Nunca mais', como 'para sempre', é muito (i.e. demasiado) tempo. Ninguém consegue arranjar tanto tempo seja para o que for.

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  2. :D Por isso é que fraquejam (algumas) promessas. "Nunca mais te bato; nunca mais bebo; até que a morte nos separe..." eh eh

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